A Física nos relacionamentos
Todos já ouvimos sobre as forças centrífuga e centrípeta. Numa máquina de lavar, após a lavagem, pomos as roupas para centrifugar. O cilindro da máquina gira em alta velocidade fazendo com que a água saia pelos furos na lateral do cilindro. Nesse exato momento, as roupas ficam dispostas na lateral do cilindro e uma força de contato (força centrípeta) faz que com a roupa se mantenha com movimento circular.
O mesmo não acontece com as água as roupas, pois ela não encontra resistência e sai pela tangente do cilindro em linha reta, ou seja, toda a água si pelos furos laterais.
Tudo na Física, parece ter um correlato em nossas vidas, como por exemplo, num relacionamento.
Quando nos apaixonamos, iniciamos um processo centrípeto. Somos duas vidas com raízes distintas, modos de criação diversos e com trajetórias por completo diferentes. De repente, nos encontramos e ambos, a partir de uma força chamada paixão, vamos nos aproximando. Não só na rotina que se altera e exigência esse ver-se diário (que se não ocorre, gera uma intensa atração chamada saudade) até que, insuportável a distância, torna-se um casamento. Ali, todas as rotinas aproximam-se mais e mais. Todos nossos gostos e vidas passam a ser comuns. Escovas de dentes no mesmo copo, sabonete comum, cama, mesa e banho únicos.
É um deleite: parece que aquela cara-metade é exatamente o complemento perfeito de nossas imperfeições e o acabamento necessário de nossas ações.
Tem-se transformação: as camisas comportadas passam a ser de cores berrantes. A saia cresce ou diminui e a intenção de agradar sobrepões a nossos gostos e paixões.
Mas aí vem o tempo. O dia após dia que é o mesmo responsável pelo arrefecimento da paixão, pela acomodação dos gestos e rotinas, vai gradativamente tirando a força dessa força centrípeta.
Inicia-se o ciclo da centrifugação. Agradar não é mais o escopo maior. Fala-se em “desrespeito a individualidade”, gostos particulares – privados – pessoais e tudo aquilo que antes era comum e que a paixão fizera ser um só gosto, um só objeto, passa a se fracionar. A se afastar do ponto comum – força centrífuga.
Hoje, sugerir uma camisa berrante passa a ser dissonante, depois descortês e depois ofensivo. A mínima interferência na mais comezinha opinião, que antes seria avidamente cumprida como de uma ordem celestial, hoje passa a ser mesmo que um palpite, um agressivo mecanismo de controle e de desrespeito a “individualidade” invocada.
Os choques ocorrem. As discussões e os afastamentos. A força centrífuga faz o seu trabalho. Pelos buraquinhos do cilindro de máquina de lavar que passa a ser o casamento, fluem os desejos de se ver livre daquelas algemas que se deixou aprisionar. As aventuras, os sonhos e outros mecanismos de negação prontos a rejeitar o que um dia fora uma paixão forte e seus caprichos e consequências.