Você já parou pra pensar na importância que o sexo tem na vida das pessoas? Para além das respostas óbvias – sim, a gente sabe que é gostoso – há muitos outros aspectos que não podem ser esquecidos.
Pra começar (e sem me aprofundar muito), entre os benefícios que o sexo traz para a saúde física e mental, podemos citar:
– redução do cortisol, que é o hormônio responsável pelo aumento do estresse e da ansiedade;
– liberação da ocitocina e da dopamina, que melhoram o humor e a sensação de felicidade;
– liberação da endorfina, que relaxa e alivia as dores dos músculos tensionados pela pressão que vivemos no dia a dia (o orgasmo é uma espécie de “analgésico”); e
– liberação da prolactina, que nos ajuda a ter um sono melhor.
Além disso: faz bem para o coração; fortalece o sistema imunológico; diminui os riscos de câncer de próstata, aumenta a autoestima etc. E eu nem mencionei aí as questões relacionadas à reprodução humana!
Ou seja, ter uma saúde sexual de boa qualidade colabora – e muito – para ter uma saúde integral de boa qualidade.
Com todos esses pontos positivos, é mais do que justificada a iniciativa da WAS – World Association for Sexual Health de ter instituído o dia 04 de Setembro como o Dia Mundial da Saúde Sexual, que comemoramos hoje. A entidade quis, com isso, por em prática sua missão de “promover e defender a saúde sexual e os direitos sexuais ao longo da vida e em todo o mundo, avançando no campo da sexologia; pesquisa de sexualidade; educação sexual abrangente; e atendimento e serviços clínicos, todos respaldados por evidências e investigação científica”.
Quando falamos em saúde sexual não estamos pensando apenas em possíveis doenças ou disfunções. Estamos indo além, englobando os aspectos físico, emocional, mental e social da sexualidade. De como a sexualidade deve ser vivida – plenamente, com alegria, prazer, segurança e sem discriminação. E também com responsabilidade, claro.
O alerta vermelho da saúde sexual começa a acender quando:
– as pessoas, por motivos éticos, morais ou religiosos, são impedidas de ter acesso à educação sexual para conhecerem seu próprio corpo e aprenderem a cuidar dele;
– as pessoas são levadas a ter vergonha do corpo e de sentir desejo;
– não há acesso facilitado aos métodos contraceptivos e para um sexo seguro, que afaste os riscos de contrair ISTs e AIDs;
– as pessoas não são ensinadas a conviver com a diferença; e
– os direitos das pessoas são desrespeitados ou limitados por qualquer aspecto relacionado à sua sexualidade.
Daí, resultam consequências de ordem física e psicológica que incluem:
– bloqueios, medo de se relacionar e disfunções sexuais (ausência de desejo, dificuldade de sentir prazer etc.) ;
– não aceitação do próprio corpo e da própria sexualidade;
– não aceitação da sexualidade do outro, gerando desrespeito e discriminação com base em gênero ou orientação sexual;
– negligência com a realização dos exames de rotina a que mulheres e homens devem se submeter para prevenir várias doenças, como o câncer de mama, de colo de útero, de próstata, HPV etc.
– contaminação por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e AIDs;
– gravidez precoce e/ou indesejada;
– criação/aprisionamento em padrões de relacionamento tóxicos; e
– frustração, estresse, ansiedade, depressão.
Encerro a lista aqui, mas ela poderia ir muito mais longe.
Recebo em meu consultório pacientes que, devido a uma educação que negligenciou a sexualidade, buscam auxílio da terapia para viver plenamente esse aspecto de suas vidas. Com um pouco de trabalho, conseguirão encontrar seu caminho.
Porém, o descaso com a educação sexual penaliza não só o indivíduo, mas a coletividade. Basta acessar os portais de notícias: a cada dia, as manchetes gritam – casos de abuso sexual e violência contra a mulher; episódios de homo e transfobia, crescimento da gravidez entre adolescentes; e por aí vai.
A pandemia de COVID-19 veio trazer mais um ingrediente a esse cenário. Mas vamos deixar isso para outro artigo, ok?
Lelah Monteiro